O CRÉU DO SENHOR (OU MIL E UMA MANEIRAS DE DEIXAR SUA ALMA MAIS LIMPINHA)

Estava eu, lendo meus e-maisl (sim! agora eu faço isso todo dia!!) quando encontro um e-mail vindo da poplist, mais precisamente do Chico Barbosa, com o seguinte subject: "A dança do Céu" e um link pro Youtube.

E como a curiosidade é uma merda, abri o link e... SURPRESA!!!!

A VERSÃO GOSPEL DA DANÇA DO CRÉU!!!!!!!!!!!!!!

Se você acha isso loucura, tem outros links MA-RA-VI-LHO-SOS na página: Pede pra sair Gospel e o MC Leozinho Gospel. Coisas feitas pra ganhar dinheiro com um nicho de mercado que está num crescente: o evangélico.

Além do Créu do Senhor, posso citar a Rave de Cristo, o Bloco de Jesus e outras tantas evangelizações de festas populares e baladas adolescentes. Algo como: "Se não podemos curtir o Carnaval porque é coisa do Diabo, nós fazemos o nosso!", ou se você preferir, uma simples desculpa moralista e hipócrita sobre o que é ou não "coisa do Diabo".

Vamos lá: TODA Igreja, seita ou seja-lá-o-que-for parte do princípio que Meu Deus lava mais branquinho que o Deus da concorrência (obrigadinha, Fábio). Isso mesmo, conceito de sabão em pó. Publicidade. Dane-se a ideologia, o estudo ou o amor à Deus. O que realmente importa é salvar-se do maldito fogo do Inferno e seus diabinhos e seu cheiro de enxofre. Criou-se a idéia que você, sendo evangélico, não pode nem falar com aqueles que não são porque eles (ou seja, eu e boa parte das pessoas que eu conheço) vão para o Inferno e por isso, trazem uma espécie de vírus transmissível pelo ar. Assim, não podem estar na mesma rave, na mesma roda de samba, no mesmo baile funk. Ou isso, ou a fé tão alardeada e a recém conversão são tão frágeis que o ideal é fugir do mundo e se esconder debaixo da cama.

Particularmente prefiro a segunda opção: uma fé frágil, calcada nas benfeitorias materiais que uma conversão pode trazer. Uma fé cercada de condicionamentos, obrigações, proibições. Uma fé que não é posta à prova porque pode falhar e revelar o quão humano uma pessoa pode ser.

Dançar, beber, namorar. Nada disso é pecado.

Soberba, sim.

E ser o povo escolhido, aqueles que serão salvos no Dia do Julgamento, e menosprezar, humilhar e diferenciar uns dos outros por esse motivo, é sim, pecado.

A não ser, que o telefone vermelho toque e o Todo-Poderoso diga que a ficha já foi limpa novamente.